História de Zico

         A HISTÓRIA DE UM ÍDOLO
                                                                                                               por Lorram Nascimento.



Zico, filho do seu Antunes e da dona Maltide.
Nascido em uma rua chamada Lucinda Barbosa, em Quintino, um subúrbio do Rio de Janeiro, 3 de março de 1953.
O caçula de uma família numerosa, quando nasceu seu pai tinha 51 anos.
Quando criança nunca ligava para comida, gostava era mesmo de batata-frita. Do resto não fazia questão. Pode ser por isso, e por ter sido um menino franzino que até parecia meio fraquinho, que foi protegido demais durante a infância, inclusive por seus irmãos.
Quando seu pai chegava à noite  do trabalho, encotrava sempre todos na rua, batendo bola. Daí, do portão, soltava o berro nun fôlego só :

"- Zeca-Nando-Edu-Tonico-Zico-pra-dentro!"

Quando Zico ia ver o Antunes jogar bola detrás do gol dos adversários.Daí, quando o time dele marcava, ele cantava :

"- Có-córi-cóóóó "

Por causa disso, pegaram a mania de lhe chamarem de Galinho.
E também para ganhar o apelido que tem até hoje , começaram lhe chamando de  Artuzinho, depois de Artuzico e , para simplificar de vez, Zico, dado por sua prima.

Seu pai era Flamengo doente! Já gostava de futebol quando chegou ao Brasil, e certo dia foi assistir, a uma partida entre Flamengo e América. O América Ganhou de 4 a 1, mais seu pai adorou a camisa do Flamengo. Foi a paixão mesm. Cada filho que nascia, comprava para ele um uniforme completo de jogador do Flamengo e outro da Seleção Brasileira.
Mais nunca quis que filho nenhum seu virasse jogador de futebol.
Jogador de futebol naquele tempo, tinha fama de sujeito da noite, farrista, boêmio..vagabundo. E além do mais, seu pai teve lá sua desilusões. Ainda moço, trabalhava numa padaria e agarrava no gol do Municipal, um time amador. Tinha liga, campeonato e tudo, e a equipe do velho Antunes foi campeã. Daí, foi chamado para treinar no Flamengo e o patrão dele, o dono da padaria, que era vascaíno ameaçou:

"- Se você for para o Flamengo, está despedido "

Seu pai precisava do emprego.

Zico era muito agarrado ao seu irmão mais velho, o Antunes, que em sua casa era conhecido como Zeca. Tanto que, para ver seu irmão jogar, matava aula. Nunca matava por nenhuma outra razão, só para ver seu irmão Antunes e o Edu jogarem. E perdeu 2 anos na escola por esse motivo.
Antunes começou a treinar no Fluminense escondido de seu pai. Costumava ajudar o velho na alfaiatariam e foi a contragosto que seu pai deu a ele permissão para seguir carreira, depois que o Zeca arrasou, nun treino do Fluminense.
Parecia que estava adivinhando o que ia acontecer. De fato, o Antunes sofreu muitas decepções. Foi lesado nos contratos, nas trocas de clube, e isso apesar de ser considerado um craque pela torcida e pela imprensa.
Mais tarde, o Edu também ia apanhar da vida, como jogador profissional. Zico viu tudo isso acontecer. Jogar com um time formado por Zico e seus irmãos, lá em sua rua,ou mesmo em campeonatos de salão, ele adorava. Sonhava em jogar no Flamengo. Mas logo notou-se que não era nen apenas brincadeiras, nen coisa que garantisse sucesso na vida de ninguém. Era meio assustador aquele bando de dirigentes que passava lá pela sua casa tentando convencer o Zeca a participar de falcatruas, a assinar contratos só para constar, nos quais o clube saía perdendo, seu irmão ganhava um trocado e ele, o cartola, embolsava uma fortuna. Um deles seu pai pessoalmente botou para correr.
Mais futebol era o que mais dava prazer na vida de Zico.
Contam em sua casa que, depois de papai e mamãe, a primeira palavra que Zico disse foi Dida, seu primeiro e até hoje maior ídolo no futebol.
Foi o ano do tricampeonato do Flamengo, e o Dida foi o artilheiro da competição. O Dida, com sua postura elegante, chutando bem com as duas pernas e com aquela imensa alegria que passava ao comemorar o gol, jogar, para ele, era decididamente uma satisfação. E Zico, de criança, já adotava bater bola, assistir ás partidas, tudo o que dizia respeito a futebol lhe encatava.
Um amigo de seu bairro, seu Ivo, trabalhava no Maracanã.
Um dia, (Zico tinha  12 anos), ele passou lá por sua casa e  lhe chamou para pisar no gramado. " Era seu sonho! "
Seu Ivo lhe levou ao Maracanã, e mais a uma amigo de Zico da rua, e deixou entrar no gramado pelo túnel central, de onde saem os árbritos. Zico esfregou o pé naquela gramazinha, olhou em volta, para as arquibancadas vazias, sem conseguir dizer coisa nenhuma, como se estivesse vendo coisas acontecendo. Dai.. "Sentiu um arrepio".

Seus irmãos já eram jogadores profissionais e viviam brincando que "o melhor da família" ainda estava em Quintino. O Edu acabou levando Zico para treinar na escolinha do América. Só que, naquela mesma semana, um amigo da família, o Ximango, que era torcedor fanático do Flamengo, trouxe o Celso Garcia, um locutor esportivo muito conhecido, para assistir uma partidar do River, time de futebol de salão de Zico. O Ximango queria que o Celso visse Zico jogar.
O River ganhou de 14 x 0 e Zico fez nove gools naquela tarde.
No dia seguinte, o Celso Garcia batia na porta da casa de Zico, combinando de o levar para um treino no Flamengo. O Edu ficou meio constrangido. Havia acertado tudo no América, e Zico ja tinha sido aceito no clube. Mas acabou concordando que era melhor para Zico tentar a sorte em um clube maior, com mais estrutura para lhe oferecer.
Naquela noite Zico não conseguiu dormir. Fechava os olhos e via ele próprio com a camisa do Flamengo, fazendo gools incríveis. Ou, então, justamente ao contrário, cara a cara com goleiro, chutando a bola para fora, e toda a arquibancada explodindo numa vaia monumental contra ele.
Pela manhã, se preparou, pos numa bolsa camiseta, calção, meiões e boteu nas costas uma chuteira novinha às pressas, justamente quando soube que ia fazer o teste no Flamengo.
Ele tinha 13 anos e parecia que a coisa mais importante da sua vida ia acontecer.
Chegaram ao clube e o Celso lebou direto ao vestiários. Lá dentro, o pessoal estava calçando as chuteiras, e Zico foi se entusiasmando. Por instante, seu nervosismo desapareceu, porque começou a se sentir como se já fizesse parte daquilo tudo.
Foi então que ele viu o Modesto Bria, treinador do Flamengo. O Celso tinha se adiantado, e estava esperando na porta do vestiário. Já quase havia tomado coragem para entrar entrar de vez quando o Bria disse pro Celso:

"- Esse Loirinho? Miudinho desse jeito? Você tá bricando? ( e ainda deu um sorrisinho quase que sentindo pena de Zico "
" Pronto!", Zico pensou: "Acabou.."

Quando era menino, nas peladas lá em Quintino, era a mesma coisa. Zico era baixinho, muito magro, dái ninguém lhe escolia para entrar no time. Teve que treinar muito, e até usar um pouco de prestígio dos seus irmãos mais velhos para conseguir jogar as primeiras vesez. No entanto, quando entrou não saiu mais. E a coisa mudou, passou a ser disputado, era o primeiro, sempre, a ser tirado pelo capitão do time que ganhava o par-ou-ímpar.

Só que o pessoal se aproveitava do seu tamanho, tinha um metro e pesava menos de quarenta quilos. Eles só paravam Zico no campo dando encontrões. Senão, levava drible, na certa...

Era uma injustiça. Olhavam para o Zico, e diziam logo que ele não podia jogar. E ele nen sabia o quanto que esse negócio de ser franzino ia interferir no começo de sua carreira..
Zico teve um exemplo muitoi duro, em sua casa. Seu irmão Edu jogava no América e era considerado um dos melhores atacantes do país. Todo mundo dava como certa a convocação dele para a Copa de 70. Mais não foi convocado. E a justificativa?
"- É.. um exelente jogador... Mas muito baixinho, né ?

Baixinho, sim, mais jogava demais. Tinha faro de gol, armava as jogadas, colocava com inteligência o companheiro em condições de marcar.. A carreira dele foi prejudicada por um tremendo preconceito.

E Zico estava lá, no vestiário do Flamengo, todo encolhido no seu canto, assistindo à discussão entre o Celso Garcia, que não se conformava, e o Bria. E mais todos os outros garotos, vendo aquilo acontecer e sabendo quem era o motivo da confusão que já ia atrasando o treino. Até que o Bria deu de ombros e deisse:

"- Tá certo! Manda o garoto se vestir e entra em campo! "

Era só o que Zico queria , uma chance de pega na bola!

"- Agora é com você, Zico!" - incentivou o Celso Garcia.

Bom não foi um treino brilhante. Não marcou nenhum gol, mais jogou bem, sem complicar. O fato é que Bria, no final, lhe mandou voltar na sexta-feira e foi logo avisando que , no sábado, Zico ia entrar no jogo contra o Everest"
No treino da sexta-feira, ja estava mais solto. Fez até gol. E no sábado sua família foi assistir ao jogo contra o Everest. Zico não acreditou, que ele estava jogando na Gávea, com a camisa do Flamengo, arquibancada, torcida e tudo. Até os jogadores do time principal foram assistir o jogo. Estavam lá o Rodrigues Neto, o Paulo Henrique, o Manicera, o Dionísio, eo Fio Maravilha. Foi quando lhe deu conta de que ele mais fazia dentro de campo era pensar. Pensar como estava seu time, pensar cada jogada, que estava em melhor condição no lance, no momento de passar a bola, pensar nas fraquezas que o adversário demonstrava e como poderiam aproveitá-las.. Pensar.. em tudo, o tempo todo. Zico acabava uma partida mais cansado da cabeça do que das pernas. No final do jogo Flamengo ganho de 4 a 3 com dois gools de Zico.

Zico e seus  irmãos tinha um time na sua rua, o Juventude. Ganhavam todas as partidas. Zico era tão fominha de bola que muitas vesez, aos sábados, deu para terminar o treino no Flamengo de manhã e correr para casa, depois do almoço tinha sempre uma pelada la em Quintino ou um jogo do Juventude disputando campeonato.
Ele anotava no caderno tudo sobre o jogo com o Everest. Mas não... resolveu que o que deveiria fazer era começar um caderno novo, dali para frente.
Daí com muitas partidas pelo time da escolinha do Flamengo. Começou a atrapalhar  no estudo de Zico, e também a despeza, da passagem e lanches, o clube não ajudava financeramente à Zico, e as despezas estavam pesar no bolso de seu pai.
Em 69, organizaram um torneio entre as escolinhas e Zico começou a receber uma pequena ajuda financeira do clube, para os gastos.Então ele pode se dedicar mais. Em  compensação, os treinos começaram a exigir mais do seu tempo. Entretanto, só treinar não era o bastante.
Zico participou de dezoito jogos, em 69, e marcou apenas três gools. Havia uma razão para isso. Ele dominava a bola com facilidade, lançava bem, mas na hora de invadir a área vinha sempre um zagueiro adversário dando trombada e jogando e lhe jogando para o alto. Não dava para ele enfrentar uma dividida com um cara mais parrudo. Mesmo sem falta, só no tranco de corpo, ele era sempre derrubado.
Aos trancos e barrancos disputou o campeonato no ano seguinte e foi artilheiro, com 27 gools. Nessa época, George Helal começou a lhe ajudar, pagando do seu próprio bolso seu transporte e alimentação. E lhe ajudaria mais ainda na sua passagem para o juvenil do Flamengo, aos dezoito anos.
O técnico do juvenil era o Jouberr. Durante os jogos, toda vez que Zico era derrubado em campo ele se levantava do banco irritado, coçava a cabeça quase arrancando o cabelo, fazia caretas, com expressão de quem comeu e detestou, e Zico nunca sabia que diacho ele estava pensando. Já andava cismado quando, um dia, ele chegou para Zico e disse:

"- Ô Zico, é o seguinte... você é muito bom, mas com esse seu corpo mirrado não vai adiante! "

"- Lá vem', imaginei.. Só que nunca esperava a proposta que ele me fez.. ( Zico )

"- Já falei com o dr. José de Paula Chaves, o médico do clube, e com o Francalacci, o preparador físico. O Heal concordou em conversa com seus pais e assumir todas as despesas.. Nós vamos trabalhar você, garoto! Pode ir se preparando porque, daqui pra frente, sua vida vai ser dureza!

Dito e feito , Zico tomou injações de hormônios e de anabolizantes, além de uma mala de vitaminas. Seguindo as ordens médicas, sua mãe lhe empurrava uma superalimentação que incluía, além de café da manhã, almoço e janta, dois lanches, um no meio da manhã, outro no meio da tarde. Dona Matilde, todos os dias, cobrava de Zico o que hava comido, como se cobra o dever de casa de um filho.
Entretanto, a parte mais pesada do seu tratamento era sua correria do dia-a-dia. As suas viagens de ônibus, de um canto da cidade pro outro, davam voltas longuíssimas, eram superdemoradas, inclusive por causa das baldeações.
Zico acordava ás cinco e meia, tomava um café da manha reforçado e pegava ou o ônibus ou o trem para a Central do Brasil, no centro da cidade. Dali, ia para a Gávea, na Zona Sul, onde chegava mais ou menos ás oito e meia, para os treinos, que duravam até as onze horas. Tomava banho, almoçava e corria para o seu colégio, o Rivadávio Corrêa, também no centro. Às cindo da tarde pegava outro ônibus para o Leblon. Zona Sul, onde ficava a Academia Coelho, isso três vezes por semana, para suas sessões de musculação. Fazia seus exercícios até as oito da noite e então voltava para Quintino, de novo via Central do Brasil. Chegava em casa por volta das dez e meia.. acabando!
Foi um período de muito exercícios físicos na vida de Zico, que nun tinha tempo nen para bate-papo, era sequencias enormes de exercícios para cumprir depois precisava dormir, para se levantar cedo no dia seguinte.
Ele queria tanto jogar futebol, vencer na carreira que, "Jura, fazer tudo de novo". Tinha seus sonhos, para fazer companhia na sala de musculação, mminha vontande de fazer do futebol seu trabalho sua vida. Nisso, acho que foi favorecido. Teve felicidade de unir o trabalho, do qual a gente tira sustento e dignidade, com a coisa que ele mais adorava, que mais lhe dá prazer.
Os resultados começaram a aparecer. Cresceu, aumentou de peso e de massa muscular. Já não procurava jogar apenas fugindo da marcação, mas encarava divididas, mesmos contra beques mais fortes. Começava a confiar no seu corpo, e ele em troca se mostrava coisas, que antes, ele nen desconfiava que podia fazer.
Foi em 70 que ele jogou sua primeira vez no Maracanã, na preliminar da partida de despedida do Carlinhos, que encerrava sua carreira e se despedia da torcida. Zico e o Carlinhos foram ao meio campo, no final, Zico, na escolinha ainda, representando a nova geração do Flamengo.Mas a camisa 10 que ia lhe fazer companhia nos momentos mais importantes de sua carreira, a camisa 10 do Flamengo, foi vestir no Maracanã, pela primeira vez, nun jogo contra o Botafogo. Eles saíram na frente e estava 1 a 0 contra a o Flamengo até a metade do segundo tempo.  De repente , Zico lançou o Fidélis, do meio de campo, e ele foi derrubado na área : pênalti. Zico apanhou a bola para bater..
Lá na arquibancada, sua família estava assistindo.
Zico estava nervoso. Olhou em volta e o anel do Maracanã estava lotado. Ficou impressonado com o silêncio das arquibancadas. Sentiu aqueles milhares de olhos lhe acompanhando, na expectativa, querendo adivinha pela suamaneira de ajeitar a bola, de tomar distância, se ia acertar o chute ou não. Cada movimento ou gesto de Zico parace que arrastava junto aqueles milhares de pares de olhos.. Mas Zico tinha treinado tanto, tantas e tantas vezes, precisava confiar no seu esforço.
Correu para a bola, viu onde o goleiro estava o goleiro, pôs na sua cabeça a imagem da bola entrando, chutou.. GooooooooooooooL...
"- Zico: Meu deus aquela coisa explodiu"
 Aquele silêncio se transformou.. sei lá em quê, numa floresta de alegria pura, numa baderna maravilhosa, inacreditável! Zico ia sentir aquilo muitas e muitas vezes, aquela sensação de que muito longe, em vários lugares do país, muitas pessoas com radinho de pilha estão comemorando junto com você. Tudo isso irrompe bem dentro de campo, no que se marca um gol. Zico sentiu o chão treme, e eles tremiam também, e sente aquela coisa dentro deles querendo estourar, por isso tem que correr, pular, socar o ar.. tudo e qualquer coisa!
Depois de fazer aquele gol lhe sentiu como se o Maracanã tivesse ficado sabendo que ele existia.
Aí, depois de seu primeiro gol no Maracanã o estádio abriu suas portas para o Zico, como se lhe chamasse para entrar em casa.
E o Maracanã se tornou sua casa. Anos depois, ele se localizava no campo até de olhos fechados. Ás vezes, chutava sem olhar para o gol, sabia que direção devia dar ao chute pela posição dos repórteres, que ocupam sempre os mesmos lugares, por trás da linha de fundo. Conhecia textura do gramado, o quique de bola ali, tido.
E foi ali também que começou a suspeitar quem era o personagem principal do jogo.. A torcida!
Não tem erro. Quando futebo está no sangue de um jogador, tudo o que ele faz é pensando na torcida do seu time. Sua corrida de comemoração de gol era um retribuição ao incentivo da torcida, era Zico dizendo como era importante para ele próprio que eles gostassem dele e de seu futebol. Zico sempre teve um relação muito carinhosa com as torcidas de todos times que jogou, sempre comemorando os gools com sua torcida e não deboxando da torcida adversária.
Naquela época aquilo tudo ainda era futuro.  O seu time andava mal e o Freitas Solich, o treinador, resolveou dar uma mexida geral. Foi buscar no juvenil o Zico, e lançou numa partida contra o Vasco, que o Flamengo ganhou de 2 a 1, (gools de Nei e do Fio). Estavam em 71,  e Zico tinha 18 anos. Graças ás suas atuações, foi convocado para disputar o Pré-Olimpico, na Colômbia. As Olímpiadas ainda eram uma disputa de atletas amadores e o Brasil suou um bocado para conseguir classificação. Conquistaram a vaga numa final dramática contra a Argentina e Zico fez o gol da vitória. O placar foi de 1 a 0.

Zagalo assumiu o carogo de técnico do Flamengo e, de cara, foi dizendo que achava ainda Zico muito inexperiente, para ocupar uma posição no time principal. Pois é, olhavam para o Zico e ainda lhe achavam com jeito de garoto. E Zico, de fato era um garoto, e ninguém tinha como saber o quento era forte para ele a vontande de se firmar como jogador, o quanto estava decidido a vencer em sua carreira, custasse o que custasse. No time principal, ia ter que ficar na reserva, esprando uma chance a cada jogo. Daí o Antoninho, técnico da Seleção Olímpica, foi na casa de Zico e lhe aconselhou a voltar para os juvenis. Como juvenil, amador ainda, ele lhe garantiu que convocaria Zico, para a seleção que iria disputar os Jogos Olímpicos.
Não foi decisão fácil. No time principal, Zico já ia assinar seu primeiro contrato. Quer dizer, ia começar a ganhar seu dinheiro com seu trabalho, deixar de pesar lá em sua casa e iniciar, sua vida, que era o que ele mais queria. Mais acabou aceitando voltar para os juvenism. Afinal, era uma vaga na Seleção Brasileira e a responsabilidade de disputar um título internacional.
Acontece que no dia em que a convocação saiu no rádio, foi o próprio Antoninho quem leu a lista dos convocados, Zico chegou em casa, e percebeu uma coisa estranha.. O Edu estava lhe esperando no portão. Ele já tinha adivinhado como é que eu ia me sentir..

"- Não deu para você Zico! Saiu a lista e seu nome não está lá! Olha, futebol tem dessas coisas..

Zico se sentiu quebrado por dentro. Se sentiu traído.. Se futebo era isso, então ele não queria mais saber de nada!
Sua família inteira lhe cercou, tentou animá-lo, mais ele não conseguia se recuperar. Alguma coisa, uma espécie de confiança nos outros, na justiça do mundo, tinha desfeito. A seleção havia se classificado para os Jogos Olímpicos com seu o seu gol, ele confiava na promessa da convocação.. Ficou muito abatido e só pensava em lagar o futebol. E aquilo lhe deprimia ainda mais, porque já lhe fazia via sem fazer a coisa que mais adorava na vida.
Os dias foram rolando meio sem vontade nen jeito, até que chegou a final do Campeonato dos Juvenis. Estavam decidindo contra o Vasco e terminaram o primeiro tempo vencendo 1 a 0. Só que, além do seu estado de espírito ainda pra baixo, ou justamente por causa disso, havia passado muito mal na concentração. Chegou até vomitar, e tudo o que ele queria era que chegasse logo o intervalo, já pensando em pedir para sair, estava se arrastando em campo no final do primeiro tempo. Foi aí que se esbarrou com Zeca na entrada do vestiário, e ele fechou a cara pro Zico :

"- Sair coisa nenhuma! Vai lá e joga! Você pode, sim ! Você consegue! Vai ser campeão, garoto! Ébesta de pedir para sair numa decisão ?

Foi aquela vontade de não deixar seu futuro ir embora.. Foi sentir que ele não ia conseguir lher  encarar se fugisse, que ele tinha brigar, que podia brigar.. !
Voltou para o segundo tempo. Fez de tudo para entrar no clima do jogo e, quando faltavam dois minutos para terminar, veiu um cruzamento da esquerda. Matou no peito, pegou de voleio e meteu no ângulo direito do Mazzaroppi. Era 2 a 0, o gol do título.
A torcida ficou totalmente maluca. E Zico com ela !



Em 73, Zico estava novamente no time principal do Flamengo. O ataque era formado por Rogério, Afonsinho, Dario, Dorval, e Paulo César Caju. O técnico ainda era Zagalo. Zico era o coringo daquele ataque. Ficava no banco e entrava no lugar de qualquer um deles, do meio do jogo, de acordo com os critérios do técnico e as necessidades da partido.

Claro que ele não estava satisfeito com essa situação. Mas o Zagalo insistia que ele ainda não estava pronto para ser titular. Por outro lado, passar por isso lhe ensinou a ter algumas uma versatilidade muita grande e até mesmo a aprimorar algumas deficiências que ele tinha.
Hoje em dia mais ainda, mas dede há muito tempo ninguém pode fixar-se numa posição, nun jogo. Um atacante que só tem uma caminho em direção ao gol, jogador de uma jogada só ou, pior time de um única jogada, muito cedo vai ficar manjada. Vão colar um marcador em cima dele e o sujeito, por melhor que seja, recnicamente, não vai mais conseguir jogar. Acho gozado quando um jogador reclama que está jogando fora de sua posição. Claro que há especialistas, e o melhor de cada jogador, o que ele mais sabe fazer, deve ser explorado. Mas, durante um jogo, tudo pode acontecer. Às vezes, não dá certo do jeito que você está acostumado, e é necessário imporvisar cavar caminhos, um pouco que nen a gente precisa fazer aí pelo mundo..
Naquele ataque, jogou em todas as posições. Armava, lançava, distribuia da intermediária, invadia pelos flancos e pelo meio, fazia as assistências, centrava e finalizava. Teve que aprender a fazer um pouco de tudo, a aproveitar cada oportunidade que aparecia para mostrar o quanto poderia ser útil ao time.

Mas continuaria na reserva até 74, quando o Zagalo foi dirigir a Seleção Brasileira na Copa do Mundo.
Foi um período dificil para Zico. Precisava se superar a cada jogo, em cada treino, provar a cada dia para todo mundo que tinha condições de ser titular. Seu segredo é que contava com o apoio de um supercraque..
Zico casou-se com a Sandra em 18 de dezembro de 75. Ele tinha vinte e dois anos, ela tinha vinte. Eles namoravam fazia seis anos. Quando Sandra comemoru quinze anos, foi ele que dançou a valsa com ela.
A Sandra era irmã da mulher Edu.

Zico estava com muitas esperanças na mudança de técnico, no Flamengo. O Joubert, seu técnico nos juvenis, havia assumido o cargo, no lugar do Zagalo. Só que o primeiro dia de trabalho de Joubert foi, para Zico, uma tremenda decepção.
No vestiário, ele lhe deu a camiseta vermelha, a camiseta dos reservas.
Zico ficou se sentido novamente o garotinho encolhido que, ali mesmo, naquele vestiário, anos antes, foi descartado pelo técnico à primeira vista, bem no dia em que acreditava que iria realizar o maior sonho da sua vida..
Seu primeiro impulso foi jogar aquela camiseta vermelha no chão, dar um chute em tudo e largar o futebo ali mesmo, naquela hora. Mas, em vez disso, o que ele fez foi vestir seu uniforme e ir para o campo. Ele não conseguiu entrar nos exercícios de aquecimento. Estava muito abatido. A seu lado, o Arílson, um ponta que já havia passado pela seleção e que agora estava na reserva do time, esperando um nova chance, lhe deu o toque :

"- Cara, parte pro treino como se fosse decisão de campeonato! "

Era o que Zico precisava. E ainda se lembrou " Que era pago para dar duro, para jogar! "
No que o treino começou, correu feito um louco, fez de tudo. O Liminha e o Rodrigues Neto começaram a reclamar com Zico, alegando que ele estava puxando demais, fazendo com que tivessem que correr mais da conta para marcar. Zico não queria nen saber. Fez dois gools, cumpriu sua obrigação para com o clube.. e para comigo mesmo. Para comigo mesmo, sua obrigação é brigar para conseguir o que ele queria, e nunca recebeu nada de bandeja. No final do treino, o Arilson foi lhe cumprimentar. Agradeceu a ele e passou pelo Joubert, que estava com uma expressão enigmática no rosto, era como se estivesse tentando desfazer um nó dentro da cabeça.
No dia seguinte, recebou a camiseta branca, havia ganho a posição de titular do time. Logo receberia também a camisa 10 e passaria jogar mais avançado, no ataque.
O time estava se reformulando, com a entrada do pessoal que havia conquistado o Campeonato dos Juvenis. E foi aí que o Geraldo foi promovido à equipe titular.
O Geraldo foi seu grande companheiro de tabelinhas. Um sabia o que o outro ia fazer e já lançava a bola apostando na capacidade do outro. Era incrível o domínio que ele tinha sobre a bola. Jogava sempre de cabeça em pé, não olhava para baixo, e a bola nunca desgrudava da chuteira dele. E Zico ficava espantado :

"- Como é que você fez isso, cara ?

Há jogadores que, com o tempo e a experiência, conseguem ter essa telepatia com a bola. Mas o Geraldo fazia isso com vinte anos! Mais tarde, Zico viu o Leandro jogar do mesmo jeito, no Flamengo. Tinha um feitiço lá entre eles e a bola.
Geraldo tinha fama de rebelde, de não gostar de treinar, de não cuidar da forma física. Mas era a rebeldia dele que surpreendia todo mundo em campo, principalmente os que saía do carrinho e colocava Zico de cara pro gol, o passe de curva que encontrava o pé de todos no meio de uma moita de zagueiros, o lançamento a distância, como se fosse um milagre, com endereço do destinatário muito bem explicado. " Geraldo era um gênio "

Ganharam o Campeonato Estadual, numa Final contra o Vasco da Gama, em 74. A torcida incentivava Zico, a imprensa lhe botava sempre em destaque, e ele passou praticamente só ver sua família no Maracanã, quando iam assistir aos jogos. A vida de Zido havia mudado bastante.
Procurava corresponder ao que se esperava de si dentro de campo. Além dos treinamentos coletivos e de controle de bola. batia até oitenta faltas por dias, das mais várias posições.
Chegava a bater dez a vinte pênaltis por dia, costumava avisar ao goleiro onde ia colocar a bola, para lhe dificultar mais. Isso naturalmente, sem contar os exercícios físicos e sua eterna musculação.
Claro que, à medida de sua produção subia em campo, aumentavam também o número e a violência das sarrafadas com que tentavam lhe parar. Em 75, o Flamengo foi jogar um amistoso com São Paulo, no Morumbi. Eles venceram de 2 a 0 e, no final, o técnico, para explicar sua vitória, declarou :

"- O Zico, ah, ele afina! Ele corre do pau!"

Era uma injustiça contra Zico.
Mais a coisa se espalhou. Havia jogadores adversários que chegavam perto dele proferindo ameaças aos cochichos :

"- Se entrar aqui na área, disse um certo goleiro, eu te arrebento! "

Zico reagiu fazendo gools nele.



Em 79, foi convocado para um amistoso entre a Seleção Brasileira e o Ajax, em São Paulo. O placar estava 3 a 0 para o Brasil. Zico fez um gol e o placar se manteve inalterado. Marcou outro, e o placar contiunou a ignorar sua presença em campo.. Até o final da partida, manteve aquele 3 a 0 debochado. Não sei como os responsáveis pelo estádio não tiveram uma idéia brilhante ainda... contabilizar seus gools para o Ajax. No mínimo, ia servir para os jogadores ficarem imaginando como eram diferente as regras do futebol jogado no Brasil.
Esse tipo de coisa o Brasil era obrigado a engolir calado sem fazer escândalo.

Em 76, numa decisão da Taça Guanabara contra o Vasco, o título já estava na mão. Eles foram para disputa de pênaltis. Era a vez de Zico cobra : se ele marcasse, Flamengo seria campeão.

Só que Zico errou. Baixou um silêncio no estádio, uma coisa assustadora, que lhe agarrou e lhe deu um nó no estômago.

Zico ia errar outro pênalti decisivo, em 86, nogo jogo contra a França, na Copa do México. Foi triste, era o melhor jogo da seleção até aquele momento. Entrou no segundo tempo, era como o Telê vinha lhe aporveitando, por causa da contusão que havia sofrido no joelho, no ano anterior, e estava frio. Zico pediu ao Sócrates para bater, mas ele lhe passo a bola. Zico era o cobrador de pênaltis do time, era sua a responsabilidade. Bateeu... e errou.

Isso também foi uma perda, como foi uma perda sentida à beça ser eleminado da final da Copa de 78, por uma atitude indigna da selação do Peru, que entregou o jogo para a Argentina. Brasil havía ganhado da Polônia de 3 a 1, e a Argentina, com que o Brasil tinha empatado no jogo anterior, precisava vencer por uma diferença de quatro gools. O jogo deles contra o Peru foi retardado, modificarem o horário, na véspera, para que a partida acontecesse depois da do Brasil. Assim, entram em campo sabendo de quantos gols precisavem. E, mal começou a partida viu que a Seleção Peruana não ia para a bola, corria sem querer alcançar. O resultado foi o 6 a 0 desonroso.
Mas aquela seleção do Brasil sempre esteve mal, trocando esquema a cada jogo, cheia de dificuldades. O técnico Coutinho. Na época, ele era fascinado pela tática, pelos sistemas de jogo, encantara-se com a Seleção Holandesa, em 74 não foi fruto deliberado de um esquema de jogo super-rígido, treinando à exaustão, nada disso. Pelo contrário, era a maneira de jogar encotrada pela seleção deles,  já que tiveram pouquíssimo tempo para treinar. Assim, não deu para fixar, um esquema, e puseram a liberdade e a criatividade em campo. Avançavam na base do imenso talento de Cryuff e companhia.

A derrota para Itália, na Copa da Espanha de 82, foi mais injusta ainda do que a desclassificação em 78. Os italianos souberam se aproveitar de falhas individuais nos três gols, depois do último, Brasil se perdeu inteiramente em campo. Ficaram desnorteados, ningupem conseguia mais raciocinar com lucidez. Tudo o que o Brasil queria era ir para a frente e fazer o gol de qualqer maneira, era não deixar a derrota, a desclassificação acontecer, fosse lá como fosse. O sonho de todos em campo, toda a dedicação para trazer aquela copa para casa, para toda torcida brasileira, foi perdida no que o Sócrates, muito bem, chamou de acidente de trabalho.

Era 76, Flamengo estava em Fortaleza, havia disputado um amistoso. De repente, todos escutaram no rádio a notícia :  o Geraldo, que havia ficado no Rio para extrair as amígdalas, morrerra nun acidente cirúrgico. Logo ele, que adiou essa operação o quanto pôde, que só topou fazer quase obrigado pelo clube. O Geraldo, era o melhor amigo de Zico na época..
E Zico não conseguia acreditar, foi um perda terrível.

Em 86, morreria o pai de Zico. E foi como se rompesse algo de sua vida para trás de si, lhe deixando solto estonteado, uma ligação com sua infância, com o passado que até ele desconhecia.

O Flamengo teve a virtude de  manter a espinha dorsal do time, desde 74, por um período em que não ganharam título nenhum. Graças a esses dois elemento, a equipe foi se aprimorando.


Continua em breve..